terça-feira, 13 de agosto de 2013

Última incursão à carne




pula-pula a marafona sobre o abdômen do morto, o peso desproporcional afunda pouco a pouco a dissoluta carne arqueada, voluta ulcerada de volta ao útero, cornija para escoar lágrimas fingidas. pisa-pisa a face teriomórfica entre touro e carneiro, vértebras partidas, a flácida barriga de estrias esverdeadas aberta aos domingos para expiação pública e taxonomia, quase dobrado agora folha rasurada, bolas de pelo como amuletos macabros rolam ladeira abaixo pela goela do falso messias que proclamava proezas sexuais - pura fantasia para viúvas de homens mortos de tédio. agora o fêmur quase atravessando a garganta. outras carnes mofadas prensaram as letras com as quais esquiara esperança e sordidez, também atiraram insultos e serpentes em seu peito, dos pulmões sem pneuma vazavam vigílias alucinógenas e lamparinas para os dias de letras turvas. os poemas em bacias entulhadas de sal e olhos-vigias perdiam a caligrafia de infâmias. forjaram suas amantes uma cruz para a morte, mas todos sabem que o rei apócrifo enforcou-se de palavras, as frases enroscaram-se arame farpado no pescoço roído por prazeres de aluguel, sílabas de pernas abertas esfregavam esponjas e xanas em sua face esquerda enquanto a direita era todo o cenário do deserto.  para sempre lançado do lado de lá das palavras. ainda que não existam deuses e não tenha alcançado o inferno, o morto não pode ser enterrado. quem um dia o calvário de um nome, nunca desnomeado.


Nenhum comentário:

Postar um comentário