domingo, 24 de novembro de 2013

Punção

“Paisagem em azul”, tríptico de 1966, Antonio Bandeira

















Este poema foi publicado na revista Desafio, nov/1977.



estranhas paisagens
tecem sinfonias
na pele do país

navios fantasmas
singram insônias
na pele do país

viúvas enlouquecidas
cantam amores perdidos
na pele do país

celerados insolentes
semeiam medo
na pele do país

corpos deserdados
dormem abandono
na pele do país

poetas carbonários
incendeiam palavras
na pele do país

flores alucinógenas
amadurecem perfumes
na pele do país

pássaros peregrinos
desinventam harmonias
na pele do país

arquitetos da aridez
desesperam auroras
na pele do país

cinéreas crianças
esparzem tragédias
na pele do país

estrelas instáveis
varrem madrugadas
na pele do país

carícias atrevidas
incrustam cimitarras
na pele do país


Um comentário:

  1. [nessa pele

    onde o corpo sem sintonia
    o passo em descaminho,
    contrário

    nessa pele onde os ossos que nos movem, se abrigam.]

    um imenso abraço, Amigo José

    Lb

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