Assisti ao filme Hannah Arendt. Lembrei-me de minha mãe negra
espancada até à morte com fio de arame farpado no morro do Salgueiro. Não
acredito que o horror possua rosto, natureza ou conteúdo, só vítimas. Me
assusto: localizamos seus corpos, mas quanto de horror não nos escapa; suas
irrealizações, suas falhas, seus planos frustrados, seus limites operacionais,
lógicos, humanos? Sobre o sequestro de Adolf Eichmann, o prato sobre o qual se
degusta a vingança pelo holocausto, considero que os aliados triunfantes, com mais
êxito, sequestraram métodos, ideias, organização e mentes da máquina de
purificação nazista, incorporaram-nos a uma estranha noção de democracia que
permite exterminar metade do planeta a fim de criar o melhor dos mundos para os
ricos e poderosos, os novos arianos. No metrô, de volta pra casa, fiquei
pensando nos jovens índios que se matam em plena invisibilidade. O mal, não
obstante, permanece intocável: milhões de judeus exterminados, milhões de
negros exterminados, milhões de índios exterminados. Quantos milhões a mais?
Olá José, assusta-me essa passividade diante do mal, essa aceitação como se fora normalidade... Fico com a sua pergunta final: ... "Quantos milhões a mais?"... Também em busca de respostas.
ResponderExcluirAbraço, Célia.