terça-feira, 21 de janeiro de 2014

As belas letras mortas, mortinhas mesmo

A única criatura do mundo que se interessa por minha poesia, meu desafeto histórico, Zantonc, enviou-me da Turquia, onde conspira contra o governo, um poema com o intuito de vergastar o meu obscuro trabalho, lançando contra mim uma série de acusações infundadas disfarçadas de crítica generalizada à litechatura de atualidades. Outra hora darei a resposta apropriada.



Escultura do artista italiano Matteo Pugliese



























As belas letras mortas, mortinhas mesmo


Milhares de palavras,
gel versalhada,
contos do vigário,
ensaios em aramaico,
romandesmanches
peniconoclásticos,
remi$$ões
em páginas protocolopiadas,
fazemos a sua tese
a cem reais por lauda,
citações refogadas
em panelas de google,
QI interferências
em orelhas, prefácios,
novas coleções primavera-verão,
coincidências estilístico-
testiculares,
evacuação de regras
com ou sem flatulência,
nunca-antes-na-literatura,
ai-como-sou-foda,
gênese infindável de gênios,
nenhuma ideia.
E não me venham
com a frase maldita
de Mallarmé a Degas;
a poesia não é feita de palavras,
mas de vazios.


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