Quando fui
expulso do Estácio, em 1975, era a remoção de todo um bairro para a maravilha
do Metrô. E fomos todos para Antares, Urucânia, Paciência e a puta que pariu,
em casas falsas inspiradas em acampamentos palestinos. Os administradores da
cidade sempre ofereceram espelhos e miçangas, além de um conjunto de frases
feitas que nunca chegaram à última sílaba. O progresso é irrefreável, mas o
desrespeito às pessoas é inevitável? Irrefreável e inquestionável formam mesmo
uma rima estranha. Por exemplo, rimam com o morro do Bumba, casas sobre aterro
sanitário? Quem desapropria o faz em benefício de quem? Progresso para quem? O
que é progresso? Ampliação da mais-valia? Bantustões para turistas, aluguel de
laje no Vidigal? Formação de nômade-lupemsinato para eleições viciadas?
Ingresso automático em facções criminosas, já que a esquerda desistiu de lutar?
As cidades cada vez mais um gigantesco balcão de negócios onde a população só
merece respeito quando aumenta o faturamento de seus verdadeiros donos, sempre
acompanhados pelos hediondos cães de guarda.
Fiz esse poema em homenagem a meu amigo Maurício, da favela de Antares que
morreu em confronto com outra gangue e eu sequer me lembro do ano, e a todas as
pessoas que já tiveram a porta de casa marcada para demolição.
Despejo
Nosso lar
não é mais nosso
logo um shopping
ignóbil
colosso
nossos móveis
nossos ossos
no caminhão de entulho
a copa do mundo é nossa
por que não sentimos orgulho?
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