José Antônio Cavalcanti
Em becos e vielas
presas
na maré tóxica
nadavam
sereias do necrossistema
pesadas
de taras e pecados.
As testemunhas insistem
em versões inconsistentes:
a) adernavam assombros e abandono;
b) abismavam autômatos urbanos:
c) negavam os negócios de Netuno;
d) nadavam o devir impossível;
e) eram falsas baleias de plástico e poliéster.
Dr. Ícaro Olímpico anotou em seu prontuário:
“Hoje, 22 de maio do
ano tal, animais marinhos não identificados circularam pelas zonas cinzentas da
cidade à procura de prazeres desconhecidos. Não se sabe o destino. Nas ruas
ficou uma gosma esverdeada presa ao asfalto e um cheiro de dólar em
decomposição no ar. Eram nove espécimes, uma, diminuta, mal podia acompanhar o
resto do grupo. Bufavam alto e traziam estranhas inscrições na pele. Na mais
ousada delas, nítida, iluminada e em letras amarelas, lia-se entre estrias: “o
caminho nunca está onde caminhamos”.
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