terça-feira, 22 de maio de 2012

A grande marcha das baleias



















        José Antônio Cavalcanti


Em becos e vielas
presas
na maré tóxica
nadavam
sereias do necrossistema
pesadas
de taras e pecados.

As testemunhas insistem
em versões inconsistentes:
a) adernavam assombros e abandono;
b) abismavam autômatos urbanos:
c) negavam os negócios de Netuno;
d) nadavam o devir impossível;
e) eram falsas baleias de plástico e poliéster.

Dr. Ícaro Olímpico anotou em seu prontuário:

“Hoje, 22 de maio do ano tal, animais marinhos não identificados circularam pelas zonas cinzentas da cidade à procura de prazeres desconhecidos. Não se sabe o destino. Nas ruas ficou uma gosma esverdeada presa ao asfalto e um cheiro de dólar em decomposição no ar. Eram nove espécimes, uma, diminuta, mal podia acompanhar o resto do grupo. Bufavam alto e traziam estranhas inscrições na pele. Na mais ousada delas, nítida, iluminada e em letras amarelas, lia-se entre estrias: “o caminho nunca está onde caminhamos”. 

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