Questão de química
Instruções:
Não use lápis nem
caneta, apenas a imaginação. Aceitam-se todas as rasuras.
Em 1921, E. Rutherford e J.
Chadwick relataram que, ao bombardear átomos de nitrogênio com partículas alfa
(núcleos de Hélio), ocorria a liberação de prótons. Posteriormente, eles
afirmaram:
Não há informação sobre o destino
final da partícula alfa. É possível que ela
se ligue, de alguma maneira, ao núcleo residual. Certamente ela não é
se ligue, de alguma maneira, ao núcleo residual. Certamente ela não é
reemetida pois, se assim fosse, poderíamos detectá-la.
Anos mais tarde, P. Blackett
demonstrou que, na experiência relatada por Rutherford e Chadwick, havia apenas
a formação de um próton e de outro núcleo X. também lembrou que, na colisão da
partícula alfa com o átomo de nitrogênio, deveria haver conservação de massa e
de carga nuclear.
Agora, seu filho da puta, com base
nas informações acima, escreva a equação nuclear representativa da
transformação que ocorre ao se bombardear átomos do isótopo 14 do nitrogênio com partículas alfa ou com poemas oxidados de nitronuvens de massa
desconhecida.
Irresolução
A questão parte de um pressuposto anticientífico, o de que há a
possibilidade de construção de resposta, quando, na verdade, já não há sequer
perguntas. Mas jogando com as regras implícitas na formulação do enunciado,
observamos um fenômeno estranho.
a) A perspectiva de intervenção violenta dos cientistas na natureza
(golpe, pancada, bombardeio de átomos, violência do destino sobre corpo e alma,
exatamente como nós dois fazemos, arremessando-nos o tempo todo acusações e
culpas) relaciona conhecimento e fratura, constituindo-se a razão instrumental
em uma enciclopédia de ruínas, a exemplo dos gestos que inscrevemos, eu e você,
em nossos corpos infectados de rugas e solidão.
b) A liberação dos prótons aponta para o processo de indeterminação da
liberdade. O próton transforma a solidez do lugar demarcado em instabilidade de
rumo, inaugura a invisibilidade como um caminho onde nós dois entramos no
inapreensível. O caráter instável da matéria forma a sinonímia de fuga e
movimento. Sim, veja o vestido grená e o capuccino no último setembro.
c) Nada sei sobre a sua massa nuclear. A órbita do seu perfume a
anos-luz de distância me transforma em sombra residual do seu traçado. Radares
e instrumentos de aferição corporal não detectam nenhuma pulsação no horizonte.
Concluo, portanto, que o núcleo residual comprova a experiência da vida real
como vestígio, resíduo de uma plenitude irrealizável.
d) O experimento investiga colisão, tangência, proximidade, afastamento.
A ciência transita entre o mundo real e o universo fantasma (você, estrela irrecuperável
de uma galáxia autofágica).
e) Se a partícula alfa me ligasse, haveria a reconstituição do núcleo (digamos, por amor à precisão, que com uma nova tonalidade, entre ocre e laranja, resultado de um excesso de neutrinos).
f) Qualquer experimento que apresente resultados positivos deve ser
anulado. Justamente por sermos inviáveis, eu e você, deveríamos transformar a
lei da gravidade relativa e construirmos um campo magnético em que nos bombardeássemos
e nos amássemos até o final dos tempos. Anulados na matéria escura do universo,
sairíamos livres e incapturáveis em alguma cidade dos mundos paralelos,
tragados pelo aberto da existência.
g) Quanto à equação, nada posso revelar: é secreta.
Cuidado, meu caro, todos os segredos estão sendo desvendados.
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