Rony Bellinho |
1. Fauno em várzea noturna
fortuna infausta
o amor: funda afasia
corpos em urnas
carnes, licores, bruma.
2. Faunos e ninfetas,
galeria de infâmias
nos lupercais lupanares da Lapa.
3. Sombras demoníacas nos muros,
vítimas nas esquinas,
tapetes afegãos na varanda.
4. Dinofaunos furtam a ninfetas
fragrâncias clandestinas
sob a lua míope e devassa.
5. Um fauno verte absinto pelos cornos
como a lua absorve em secreta órbita,
no cobre de crateras macedônias,
o rubro licor de virgens tessálicas.
6. Noturna sereia,
no cabaré da Lapa,
não cabe
a indecisa nudez.
7. Peças
saltam ao chão
e desenham um pecado de cada vez.
8. Neste recinto oracular
em vermelho soalho mofado
blusas batas burkas
bêbadas
profanadas.
9. Manual de instalação de desatinos,
regras de abuso, senhas de violação:
vírus no código da carne feita maldição.
10. Ruínas urbanas as avenidas vênus
plenas de ícones egípcios, bíblicos, suburbandos.
Mover-se na parte rasurada dos mapas:
uma odisséia de perversão e sant(C)idade.
11. Eromágicos movimentos:
bacantes, ninfas e hetairas,
um balé de pólen e vento.
12. Entrar e sair de becos, bocas, grutas.
Invadir a cena, a festa, a fescenina
cerimônia da câmara íntima feminina.
13. Pã aposentou navalha e avena;
exilado dos cenários bucólicos das colinas cariocas
(e fugitivo de penitenciária espartana)
inferniza damas em (in)cômodos Tiradentes.
14. Cosmonáufrago, demônio da garrafa,
incendeia de cachaça e carícias os corpos
caravelas de amantes anônimas e insensatas.
15. A plenos pulmões, fauno de camisa amarela,
no soviete dionisíarcos da Lapa, recita
a cento e cinqüenta milhões de ninfálicas
a desgrama amorosa para o milênio do caos.
16. Paixão de fauno é selo no ventre;
impregna os monossílabos do gozo
com o fogo da fúria e da intensidade
e crava o agora no sempre.
17. O amor, lâmina incandescente,
rasura, risco, rabisco traiçoeiro,
jaula e algema nas quais a alma
do fauno jaz sob danoso domínio.
18. Dos negros montes pubianos
o fálico ser aceso vê
a grande rota das caravanas.
19. O tempo inclemente colheu o calor.
O fauno, no meio da malandragem,
sem flauta e sem cavaquinho, decanta
a fraude amorosa, a erofágica libação.
20. Torcer, retorcer, distorcer,
conjugar o corpo crepuscopular
no grau grisalho da queda.
21. Ninfetas-manequins sem afeto
em sépias lilases e magentas
mãos hábeis na flor e no furto
simulam caos, orgasmo e adeus.
encantador, meu caro!
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