terça-feira, 15 de maio de 2012

FAUNOSFERA




Rony Bellinho
























 
           
1. Fauno em várzea noturna
    fortuna infausta
    o amor: funda afasia
                      corpos em urnas
    carnes, licores, bruma.


2. Faunos e ninfetas,
    galeria de infâmias
    nos lupercais lupanares da Lapa.


3. Sombras demoníacas nos muros,
    vítimas nas esquinas,
    tapetes afegãos na varanda.


4. Dinofaunos furtam a ninfetas
    fragrâncias clandestinas
    sob a lua míope e devassa.























5. Um fauno verte absinto pelos cornos
    como a lua absorve em secreta órbita,
    no cobre de crateras macedônias,
    o rubro licor de virgens tessálicas.


6. Noturna sereia,
    no cabaré da Lapa,
    não cabe
    a indecisa nudez.


7. Peças
    saltam ao chão
    e desenham um pecado de cada vez.


8. Neste recinto oracular
    em vermelho soalho mofado
    blusas batas burkas
                                        bêbadas
    profanadas.




























9. Manual de instalação de desatinos,
    regras de abuso, senhas de violação:
    vírus no código da carne feita maldição.


10. Ruínas urbanas as avenidas vênus
      plenas de ícones egípcios, bíblicos, suburbandos.
      Mover-se na parte rasurada dos mapas:
      uma odisséia de perversão e sant(C)idade.


11. Eromágicos movimentos:
      bacantes, ninfas e hetairas,
      um balé de pólen e vento.


12. Entrar e sair de becos, bocas, grutas.
      Invadir a cena, a festa, a fescenina
      cerimônia da câmara íntima feminina.


13. Pã aposentou navalha e avena;
      exilado dos cenários bucólicos das colinas cariocas
      (e fugitivo de penitenciária espartana)
      inferniza damas em (in)cômodos Tiradentes.





























14. Cosmonáufrago, demônio da garrafa,
      incendeia de cachaça e carícias os corpos
      caravelas de amantes anônimas e insensatas.


15. A plenos pulmões, fauno de camisa amarela,
      no soviete dionisíarcos da Lapa, recita
      a cento e cinqüenta milhões de ninfálicas
      a desgrama amorosa para o milênio do caos.


16. Paixão de fauno é selo no ventre;
      impregna os monossílabos do gozo
      com o fogo da fúria e da intensidade
      e crava o agora no sempre.




























17. O amor, lâmina incandescente,
      rasura, risco, rabisco traiçoeiro,
      jaula e algema nas quais a alma
      do fauno jaz sob danoso domínio.


18. Dos negros montes pubianos
      o fálico ser aceso vê
      a grande rota das caravanas.


19. O tempo inclemente colheu o calor.
      O fauno, no meio da malandragem,
      sem flauta e sem cavaquinho, decanta
      a fraude amorosa, a erofágica libação.




























20. Torcer, retorcer, distorcer,
      conjugar o corpo crepuscopular
      no grau grisalho da queda.


21. Ninfetas-manequins sem afeto
      em sépias lilases e magentas
      mãos hábeis na flor e no furto
      simulam caos, orgasmo e adeus.
 

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